Se você frequentou reunião dançantes, lá pelos idos dos anos 70, vai se lembrar. Era muito comum uma garota ser tirada para dançar e responder na lata: "não". Se era uma garota educada, dizia: "não, obrigada". Mas não havia um pingo de remorso na negativa. Ela não estava a fim. O cara que voltasse para seu lugar ou tentasse dançar com outra menina.
Hoje todos dançam em grupo e também sozinhos, é só chegar e entrar na pista. As relações mudaram. Uma garota, por exemplo, já não precisa esperar para ser "pedida em namoro", como acontecia antes.
As coisas rolam com mais naturalidade, e se ela estiver a fim do cara, é só falar. E ele tem todo o direito de responder: "não". Se for educado, "não, obrigado".
Parece simples, mas muita gente ainda está engessado no tempo em que uma mulher podia negar um homem, mas um homem não podia negar uma mulher.
Alguns homens ainda se sentem na obrigação de encarar um romance, ainda que por uma noite só, com uma mulher por quem eles não sentem absolutamente nada, mas que facilitou.
E muitas mulheres ainda se sentem ofendidíssimas quando demonstram interesse explícito por um homem e ele recusa a oferenda.
A revolução sexual acabou com esses rituais de caça e caçador. Se a caça se oferece para o abate mas o caçador não está com fome, ele tem todo o direito de deixar a chance passar sem que outros caçadores o rotulem de babaca e sem que a caça se sinta humilhada.
Vivemos uma época em que alguns casais se unem pelo amor e outros casais se unem pelo desejo, estes últimos abrindo mão das idealizações e do romantismo.
Quando surgiu a pílula anticoncepcional e os tabus sexuais caíram por terra, mulheres do mundo inteiro comemoraram a possibilidade de vivenciar romances leves, prazerosos e descompromissados, como os homens vinham fazendo por séculos.
A conta, no entanto, não tardou a chegar: o convívio com a rejeição.
O homem pode transar com a mulher numa noite e na manhã seguinte partir sem deixar o número do telefone, e as mulheres devem aceitar isso como parte do jogo.
Uns ficam, uns vão.
Lutamos muito para ter o direito de tirá-los para dançar.
Agora temos que aprender a ouvir "não, obrigado" e não deixar que isso estrague o baile.
0 comments:
Post a Comment