Dizem que o melhor da festa é esperar por ela. Concordo. A festa em si raramente justifica nossa ansiedade. Você se corresponde por e-mail com um rapaz desconhecido. Trocam confidências e abusam um pouco do vocabulário libidinoso, até que um dia ele dá um basta nessa relação virtual e marca um encontro ao vivo com você. Segura coração. Você faz uma reserva para seu primeiro vôo para a Europa: desembarcará em Roma, lugar que sempre desejou conhecer. Lê tudo o que cai nas suas mãos sobre a Cidade Eterna e já consegue sentir o cheiro das ruelas que cercam a Piazza Spagna. Excitação. Você recebe em casa a correspondência que sempre sonhou: aceitaram seu nome para preencher o cargo de gerente de marketing de uma grande empresa. Mal vê a hora de começar. Você planeja um reveillon de arrebentar: vai para Copacabana jogar flores para Iemanjá, pular sete ondas e passar o resto da madrugada com uma garrafa de Veuve Cliquot nas mãos. Contagem regressiva. Pois bem. Você descobre que seu amigo internauta mede 1.55, tem mau-hálito e é casadíssimo. Ao chegar em Roma, seu deslumbramento terá que competir com a realidade: os pontos turísticos vivem lotados, as ruas não são tão limpas e o atendimento das lojas deixa a desejar. A gerência de marketing aumentou o seu salário, mas a carga horária também: você não tem hora para largar o serviço à noite e os sábados livres viraram raridade. E quanto ao reveillon, quem diria: três milhões de pessoas tiveram a mesma idéia que você. É claro que essa reversão de expectativa não precisa acontecer, e tudo pode ser ainda melhor do que o imaginado, mas é difícil. Em geral, ao aguardar ansiosamente um acontecimento, principalmente os que envolvem grande carga emocional, a tendência é nos depararmos com os dois lados da moeda, enquanto que nossa imaginação estava valorizando apenas um: o ideal. Ninguém vai deixar de sonhar por causa disso, mas não é má idéia reservar certa dose de humor para receber o inesperado.
AS SURPRESAS DO INESPERADO - MARTHA MEDEIROS
Dizem que o melhor da festa é esperar por ela. Concordo. A festa em si raramente justifica nossa ansiedade. Você se corresponde por e-mail com um rapaz desconhecido. Trocam confidências e abusam um pouco do vocabulário libidinoso, até que um dia ele dá um basta nessa relação virtual e marca um encontro ao vivo com você. Segura coração. Você faz uma reserva para seu primeiro vôo para a Europa: desembarcará em Roma, lugar que sempre desejou conhecer. Lê tudo o que cai nas suas mãos sobre a Cidade Eterna e já consegue sentir o cheiro das ruelas que cercam a Piazza Spagna. Excitação. Você recebe em casa a correspondência que sempre sonhou: aceitaram seu nome para preencher o cargo de gerente de marketing de uma grande empresa. Mal vê a hora de começar. Você planeja um reveillon de arrebentar: vai para Copacabana jogar flores para Iemanjá, pular sete ondas e passar o resto da madrugada com uma garrafa de Veuve Cliquot nas mãos. Contagem regressiva. Pois bem. Você descobre que seu amigo internauta mede 1.55, tem mau-hálito e é casadíssimo. Ao chegar em Roma, seu deslumbramento terá que competir com a realidade: os pontos turísticos vivem lotados, as ruas não são tão limpas e o atendimento das lojas deixa a desejar. A gerência de marketing aumentou o seu salário, mas a carga horária também: você não tem hora para largar o serviço à noite e os sábados livres viraram raridade. E quanto ao reveillon, quem diria: três milhões de pessoas tiveram a mesma idéia que você. É claro que essa reversão de expectativa não precisa acontecer, e tudo pode ser ainda melhor do que o imaginado, mas é difícil. Em geral, ao aguardar ansiosamente um acontecimento, principalmente os que envolvem grande carga emocional, a tendência é nos depararmos com os dois lados da moeda, enquanto que nossa imaginação estava valorizando apenas um: o ideal. Ninguém vai deixar de sonhar por causa disso, mas não é má idéia reservar certa dose de humor para receber o inesperado.
0 comments:
Post a Comment