Sunday, July 21, 2013

Era uma aula de Geografia. Marcelo Rubens Paiva



Era uma aula de Geografia.

Acidentes geográficos. Picos e morros, enseadas, restingas e placas, como os continentes se separaram, juntaram-se, comem-se, atropelam-se, terremotos e vulcões. Ela tinha muito sono. Estava no canto da sala, na primeira fileira, a voz da professora só piorava. Ela dormira tarde. Ela andava com insônia, e vinha depois o preço, o sono. Ela andava atormentada por um namoro fixo, muito nova, ainda. Ele era ciumento, daqueles, não a deixava olhar para os lados, conversar com outros, ter amigos. Ela andava com insônia, porque não sabia se a vida era assim, ou se mudava de.
Encostou a cabeça na janela, olhou o jardim do pátio regado, fechou os olhos. Placas tectônicas. Cruzou as pernas. Imaginou sozinha na sala. A porta aberta. E entraria alguém. Se deu conta, estava já molhada. A vista do jardim sumiu, a voz da professora se apagou. Ela sente tesão por algo que não sabe o quê, apenas isso, sozinha na sala, e entra alguém. O tesão aumenta, ela aperta as pernas, não emite um “a”, só pensa nisso, como assim, de repente, do nada?
Tesão, tesão, tesão…


Até esmagar uma perna na outra, vibrar com espasmos todo quadril, as cochas, as unhas cravadas na pele, como se tentasse impedir, não ali, não naquele instante, instante quer parece não acabar nunca, que não devia terminar, que dá sentido a tantas coisas e não faz sentido vir do nada, como uma rebelião das células, dos pensamentos secretos, segurando a bandeira do desejo, que vence a razão, a revolta do tesão hibernado. Como um terremoto que anuncia uma erupção, arrancando a paz de um campo em harmonia. Jorra larva que escorre, aquece. Magma.
Gozou. Sem ninguém perceber. Depois de minutos. Pelo jeito, ficou para sempre.
Isso aconteceu anos atrás. Ela nunca mais viu o namorado ciumento. Ela me contou com um ar superior:



“Vocês homens não conseguem gozar sem se tocar.”
Não. Acho que não.

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Era uma aula de Geografia. Marcelo Rubens Paiva



Era uma aula de Geografia.

Acidentes geográficos. Picos e morros, enseadas, restingas e placas, como os continentes se separaram, juntaram-se, comem-se, atropelam-se, terremotos e vulcões. Ela tinha muito sono. Estava no canto da sala, na primeira fileira, a voz da professora só piorava. Ela dormira tarde. Ela andava com insônia, e vinha depois o preço, o sono. Ela andava atormentada por um namoro fixo, muito nova, ainda. Ele era ciumento, daqueles, não a deixava olhar para os lados, conversar com outros, ter amigos. Ela andava com insônia, porque não sabia se a vida era assim, ou se mudava de.
Encostou a cabeça na janela, olhou o jardim do pátio regado, fechou os olhos. Placas tectônicas. Cruzou as pernas. Imaginou sozinha na sala. A porta aberta. E entraria alguém. Se deu conta, estava já molhada. A vista do jardim sumiu, a voz da professora se apagou. Ela sente tesão por algo que não sabe o quê, apenas isso, sozinha na sala, e entra alguém. O tesão aumenta, ela aperta as pernas, não emite um “a”, só pensa nisso, como assim, de repente, do nada?
Tesão, tesão, tesão…


Até esmagar uma perna na outra, vibrar com espasmos todo quadril, as cochas, as unhas cravadas na pele, como se tentasse impedir, não ali, não naquele instante, instante quer parece não acabar nunca, que não devia terminar, que dá sentido a tantas coisas e não faz sentido vir do nada, como uma rebelião das células, dos pensamentos secretos, segurando a bandeira do desejo, que vence a razão, a revolta do tesão hibernado. Como um terremoto que anuncia uma erupção, arrancando a paz de um campo em harmonia. Jorra larva que escorre, aquece. Magma.
Gozou. Sem ninguém perceber. Depois de minutos. Pelo jeito, ficou para sempre.
Isso aconteceu anos atrás. Ela nunca mais viu o namorado ciumento. Ela me contou com um ar superior:



“Vocês homens não conseguem gozar sem se tocar.”
Não. Acho que não.

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