E, quanto a ela, agora não tinha mais desculpa para não fazer o que achava que devia fazer,
que, aliás, fizesse isso mesmo:
o que achava que devia fazer.
Era um presente em que ele tinha pensado muito antes de dar a ela
e era um presente de grande amor.
Não o dinheiro,
que ele não tinha ninguém no mundo a não ser ela e,
portanto, era sua obrigação cuidar dela direito,
pois que ela tampouco tinha alguém por si no mundo.
Mas, sim, a liberdade de ser e escolher,
coisa para que, pelo menos da parte dele,
ela acharia ajuda,
embora fosse encontrar dificuldade de todas as outras partes,
dificuldade mortal mesmo,
dificuldade dura e sem misericórdia.
Mas este conselho lhe dava: que não fosse boba,
que não confiasse, não confidenciasse e não desistisse com facilidade;
que não fosse mentirosa. mas também não imprudente:
que não quisesse lutar sempre do mesmo jeito,
mas que visse que para cada luta há um jeito próprio,
dependendo sempre das circunstâncias;
e que gostasse dele,
porque ele gostava tanto dela que o coração lhe doía e,
se não tinha sido melhor avô,
fora porque não soubera,
mas tudo o que sabia e procurara aprender tinha feito para ela.
Ela gostava dele?
João Ubaldo Ribeiro
0 comments:
Post a Comment