Fiquei com ele algumas poucas vezes. Em todas elas tudo parecia perfeito. O cheiro (sou viciada em cheiros), o gosto, a forma como eu me sentia. Eu esquecia de tudo. E daí que o homem pisou na lua e daí que teve terremoto no Japão e daí que as crianças somalianas são desnutridas? Só ele me importava. Eu deitava e dormia e um neon vermelho piscava ele-ele-ele-ele-ele. Eu acordava e ia fazer xixi e o neon ia me perseguindo ele-ele-ele-ele. Eu vivia ele, respirava ele, sonhava ele, comia ele.
Um dia ele não me quis mais. Do nada decidiu que não me queria. Do nada decidiu que não daria certo. Do nada meteu o pé com toda a força na minha bunda. E doeu. Doeu tanto que chorei dias e noites. Doeu tanto que decidi tudo aquilo que a gente decide quando é rejeitada: nunca mais vou gostar de alguém, nunca mais vou errar de novo, nunca mais vou me entregar tanto, nunca mais vou ser tão sincera, nunca mais vou ser tão boba, nunca mais, nunca mais.
No dia em que ele não me quis mais eu decidi que também não ia mais querer ele. Mas não deu certo. E olha que eu fiz de tudo. Tentei ter raiva, mas lembrava daquele olhar que me deixava com a perna bamba. Tentei ter nojo, mas só sentia saudade. Tentei imaginar ele fazendo cocô no banheiro, ele colocando o dedo no nariz e fazendo bolinha de tatu, ele vomitando, ele fazendo todas as nojeiras possíveis. E só me dava vontade de tê-lo por perto. Tentei beber, tentei me distrair, tentei chorar tudo que dava, tentei me recuperar, tentei sair, tentei dormir, tentei sorrir. Tentei de tudo, tentei muito, em outras épocas tentei bem pouco. Tentei me apoiar nos amigos, no trabalho, na farra. Tentei até um novo amor. Tentei rezar, tentei comer, tentei superar, tentei colocar o nome dele no mel. Tentei desistir de pensar nele. Tentei voltar a pensar nele. Tentei deixar a vida se encarregar do futuro. Tentei desistir de deixar a vida se encarregar. Tentei continuar.
Acordei. Não posso ficar com raiva de alguém que não quer mais nada comigo. Não posso ter ódio de uma pessoa só porque ela não me quer mais. Você pode apelar para tudo. Você pode ter as mais diversas reações. Você pode chorar, espernear, tentar se matar. Nada disso adianta. Ele não quer nada com você. E não adianta você querer que ele queira algo com você.
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